segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O parque


Por: Alessandra Monteiro Mazzei de Campos


No parque acontecem aprendizagens que muitos olhares não percebem! Aliás quem vê as crianças correndo pra lá e pra cá, talvez nem se dê conta de tudo o que acontece ali, então vamos por partes, certo?

Olhe uma criança brincando com areia. Bom, pra começar você não verá só uma criança brincando, mas o legal é que você vai vê-la brincando com outras... E elas, na brincadeira, aprendem a combinar o que desejam fazer com a areia, alimentam a imaginação com pedaços de madeira e pedrinhas que se transformam em temperos e guloseimas para refeições imaginárias. Vivenciam, na brincadeira, atitudes que os adultos fazem como a preparação dos alimentos, fazem de conta que vão até o mercado para comprar os itens que precisam. E assim experimentam no faz de conta às situações que viverão quando crescerem. Estão aprendendo a entender o mundo e participar da sociedade que fazem parte. Nossa e isso só com uns baldinhos e areia, hem?

Na areia, há vida além do bolo de aniversário e dos parabéns a você.
A areia possibilita outras aprendizagens também, como ela adquire a forma do que a suporta, as crianças fazem muitas experiências e a transformam no que querem, assim como a sua consistência, colocando mais ou menos água. A areia ganha formas e sentidos inusitados.

Pois é, mas não para por aí!

As crianças estão no balanço, no gira-gira, na gangorra...Além de sabermos que esses brinquedos contribuem para o desenvolvimento do tônus muscular, há muito mais aprendizagens sociais. Olhe só: eles precisam administrar a vontade de brincar em algo que já está ocupado e esperar a vez (quantas vezes precisamos fazer isso em nossa vida adulta?); se vêm na situação de ceder a vez ao perceberem que já estão há muito tempo no brinquedo e outro colega (aquele amigão) também quer ir; precisam convidar alguém para dividir a gangorra, já que ninguém brinca ali sozinho e com isso aprender a ouvir sim e não para os seus convites e não se desesperar com isso; precisam pensar e inventar soluções criativas para dividir uma balança, um espaço no trepa-trepa; eles enfrentam desafios de verem colegas mais ligeiros em certos brinquedos e não se frustar com isso e os mais ligeiros aprendem a respeitar o tempo de outro que gira mais devagar, mas que sobe mais alto e assim aprendem que as diferenças fazem parte da vida!

Esses brinquedos de parque ganham outras vidas com cordas e panos e se transformam em foguetes ou em castelos possibilitando vivências imaginárias.

Quer um exemplo: Alguns meninos de minha turma são fanáticos por pipas. Como ainda não desenvolvi uma atividade de oficina para montá-las isso não os impede de empiná-las assim mesmo e soltam totalmente sua imaginação em nosso horário de parque. Sobem nos brinquedos como se fosse a parte mais alta de suas casas, pegam os potes e baldes de areia e fazem de conta que estão enrolando e desenrolando a linha, olham pra o céu e “enxergam” suas pipas coloridas sendo cortadas ou cortando a pipa do outro. Se empolgam, comentam, riem e discutem sobre o que vale ou não nessa brincadeira. Pegam baldes, peneiram areia e fazem como se estivessem passando cerol na linha. Em sala, desenham e escrevem sobre todas as pipas que empinaram no parque, em suas mentes ricas e férteis, cheias de vivências e trocas. Para mim, que os assisto e interfiro quando necessário é riquíssimo e não paro de pensar quem, na verdade, está aprendendo mais – eu ou eles com nossas idas ao parque.

O parque tem flores, pedras, folhas que geram coletas e coleções dos cientistas e matemáticos.

Esses cientistas natos observam a secura do parque nos dias de falta de chuva, ou discutem os empoçamentos no dia seguinte a uma chuvarada, dão idéias, criam soluções, buscam alternativas, questionam e aprendem sobre o mundo que os cerca, fazem comparações com outras vivências, citam exemplos...

Acho que escreveria umas dez folhas para falar de tudo o que um simples parque oferece, mas paro por aqui e deixo os adultos que lêem esse blog com aquela saudadizinha de quando fazia tudo isso no parque.

Ou não se reprima e suba em uma boa balança, dê uma volta no gira-gira, hem?

Nenhum comentário: