segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Ritmos e sons...


Por: Alessandra Monteiro Mazzei de Campos



O trabalho com música na Educação Infantil não se restringe a ensinar musiquinhas gostosas de nossa época de infância, muito embora, as crianças gostem e se envolvam com as músicas que cantamos juntas e trazem sons onomatopaicos, referências a animais ou partes do corpo, por exemplo.

Mas, podemos e devemos ir muito além disso, embora não tenhamos formação musical.

O que fazer então?

Podemos investir, em uma atividade permanente, com a exploração de diferentes ritmos sendo acompanhados de chocalhos, batucadas usando latas vazias, palmas e outros alternativas.

Assim, podemos acompanhar músicas, perceber a melodia, estudar o ritmo e acompanhá-lo com uma boa audição e momentos de atenção, cultura e lazer.

Além disso, por que estudar apenas o repertório de músicas infantis?

Podemos levar para nossas aulas muitos outros estilos musicais como o samba, o rock, o clássico, a rumba, a música árabe, as percussões africanas e baianas proporcionando uma ampliação cultural e permitindo aos nossos alunos conhecer para poder escolher o que mais gosta.

As aulas podem ser cheias de novidades, de estudos de ritmos, estilos e elementos musicais variados e ricos.

A família pode ser uma grande contribuidora, nos dando dicas de músicas e ritmos de sua terra natal e, tendo algum familiar que toque instrumentos, pode proporcionar ao grupo a audição e também um momento de tirar dúvidas e de conhecimento mais profundo sobre a Música e os instrumentos musicais.

Os passeios também enriquecem a experiência musical, como, por exemplo, uma visita a Sala São Paulo que tem uma programação voltada para as crianças, bastando entrar em contato, agendar e encher os olhos e os ouvidos com uma vivência única e especial. Estando atento é possível verificar e organizar passeios ao Memorial da América Latina que também tem uma programação rica e aos SESCs mais próximos que trazem musicais e oficinas especiais.

É claro que um passeio, para quem trabalha na rede pública, envolve não só a organização e o planejamento, mas também a locação do ônibus e alguns entraves financeiros, então, se não for possível enriquecer o trabalho com Música com esse tipo de experiência, cds e dvds fazem sua parte com sucesso!
http://primeiroturnoemeiottiliadejesuspires.blogspot.com/

O parque


Por: Alessandra Monteiro Mazzei de Campos


No parque acontecem aprendizagens que muitos olhares não percebem! Aliás quem vê as crianças correndo pra lá e pra cá, talvez nem se dê conta de tudo o que acontece ali, então vamos por partes, certo?

Olhe uma criança brincando com areia. Bom, pra começar você não verá só uma criança brincando, mas o legal é que você vai vê-la brincando com outras... E elas, na brincadeira, aprendem a combinar o que desejam fazer com a areia, alimentam a imaginação com pedaços de madeira e pedrinhas que se transformam em temperos e guloseimas para refeições imaginárias. Vivenciam, na brincadeira, atitudes que os adultos fazem como a preparação dos alimentos, fazem de conta que vão até o mercado para comprar os itens que precisam. E assim experimentam no faz de conta às situações que viverão quando crescerem. Estão aprendendo a entender o mundo e participar da sociedade que fazem parte. Nossa e isso só com uns baldinhos e areia, hem?

Na areia, há vida além do bolo de aniversário e dos parabéns a você.
A areia possibilita outras aprendizagens também, como ela adquire a forma do que a suporta, as crianças fazem muitas experiências e a transformam no que querem, assim como a sua consistência, colocando mais ou menos água. A areia ganha formas e sentidos inusitados.

Pois é, mas não para por aí!

As crianças estão no balanço, no gira-gira, na gangorra...Além de sabermos que esses brinquedos contribuem para o desenvolvimento do tônus muscular, há muito mais aprendizagens sociais. Olhe só: eles precisam administrar a vontade de brincar em algo que já está ocupado e esperar a vez (quantas vezes precisamos fazer isso em nossa vida adulta?); se vêm na situação de ceder a vez ao perceberem que já estão há muito tempo no brinquedo e outro colega (aquele amigão) também quer ir; precisam convidar alguém para dividir a gangorra, já que ninguém brinca ali sozinho e com isso aprender a ouvir sim e não para os seus convites e não se desesperar com isso; precisam pensar e inventar soluções criativas para dividir uma balança, um espaço no trepa-trepa; eles enfrentam desafios de verem colegas mais ligeiros em certos brinquedos e não se frustar com isso e os mais ligeiros aprendem a respeitar o tempo de outro que gira mais devagar, mas que sobe mais alto e assim aprendem que as diferenças fazem parte da vida!

Esses brinquedos de parque ganham outras vidas com cordas e panos e se transformam em foguetes ou em castelos possibilitando vivências imaginárias.

Quer um exemplo: Alguns meninos de minha turma são fanáticos por pipas. Como ainda não desenvolvi uma atividade de oficina para montá-las isso não os impede de empiná-las assim mesmo e soltam totalmente sua imaginação em nosso horário de parque. Sobem nos brinquedos como se fosse a parte mais alta de suas casas, pegam os potes e baldes de areia e fazem de conta que estão enrolando e desenrolando a linha, olham pra o céu e “enxergam” suas pipas coloridas sendo cortadas ou cortando a pipa do outro. Se empolgam, comentam, riem e discutem sobre o que vale ou não nessa brincadeira. Pegam baldes, peneiram areia e fazem como se estivessem passando cerol na linha. Em sala, desenham e escrevem sobre todas as pipas que empinaram no parque, em suas mentes ricas e férteis, cheias de vivências e trocas. Para mim, que os assisto e interfiro quando necessário é riquíssimo e não paro de pensar quem, na verdade, está aprendendo mais – eu ou eles com nossas idas ao parque.

O parque tem flores, pedras, folhas que geram coletas e coleções dos cientistas e matemáticos.

Esses cientistas natos observam a secura do parque nos dias de falta de chuva, ou discutem os empoçamentos no dia seguinte a uma chuvarada, dão idéias, criam soluções, buscam alternativas, questionam e aprendem sobre o mundo que os cerca, fazem comparações com outras vivências, citam exemplos...

Acho que escreveria umas dez folhas para falar de tudo o que um simples parque oferece, mas paro por aqui e deixo os adultos que lêem esse blog com aquela saudadizinha de quando fazia tudo isso no parque.

Ou não se reprima e suba em uma boa balança, dê uma volta no gira-gira, hem?

Adaptar-se: uma realidade humana

Por: Alessandra Monteiro Mazzei de Campos

Como poderia descrever os primeiros dias de aula em uma sala de educação infantil?
Tem várias formas porque tem muitos rostos:
*Os rostos dos pequenos que nunca frequentaram uma escola em suas vidinhas. Rostos que, às vezes, estão escondidos por trás das lágrimas que choram de medo do lugar estranho, das pessoas diferentes que nunca viu, da saudade da mamãe, da vovó ou de quem lhe cuidasse. Rostos de olhos curiosos, por vezes até um pouco arregalados com tantas novidades. Rostos de sobrancelhas franzidas e biquinhos desconfiados sobre todo aquele espaço e aquela gente circulando o tempo todo. Rostos sorridentes e cheios de expectativas perante o monte de coisas que poderão realizar.
* Os rostos das crianças que já conheciam a escola, mas que iniciam um novo ano, acompanhados de sorrisos alegres ao encontrarem com os velhos colegas, de olhos atentos as novidades que sempre aparecem, gestos de saudade pelo que viveram e sentiram no ano anterior, corações apertados da ansiedade do que o novo representa.
* Os rostos dos pais e mães que sentem a apreensão de deixar seus filhos em um lugar que não é bem a casa deles, embora digamos que a escola é nosso segundo lar, com pessoas que mal se conhece, se alimentando de comidas que eles não prepararam...Rostos de esperança de que seus filhos serão felizes durante as horas que passarem ali e que o que aprenderem será muito útil na vida futura.
* Os rostos dos professores ansiosos pela sua nova turma que chega, curiosos em ver as "carinhas" que estarão presentes em seu dia-a-dia durante um ano inteiro, apreensivos quanto a grande responsabilidade que é educar e cuidar dos filhos de outras pessoas que lhe confiaram essa tarefa.
* Rostos de todos que passam seu dia em volta das crianças, trabalhando por elas e para elas, cheios de expectativas, voontades, medos, superações...
E todos esses rostos que passam na escola, desde o seu primeiro dia, durante o período de adaptação e, depois, o ano todo, traduzem essa miscelânia de sentimentos que nos acompanha e que nos ajuda a viver o cotidiano da escola como um lugar especial, onde o profissional da educação e aquele que é atendido tem um objetivo muito grande a ser alcançado: ajudar nossas crianças a serem um pouco mais felizes!

Entre o que pensamos e o que fazemos...

Por Alessandra Monteiro Mazzei de Campos

Outro dia, conversando com uma formadora que admiro muito e que estava me dando muitas dicas de trabalho com sequência de atividades para crianças da Educação Infantil, fiquei me perguntando muitas coisas.
Conforme ela me orientava e me abria os olhos sobre procedimentos que eu poderia ter adotado e não adotei, passava pela minha cabeça: mas como eu não fiz isso, como não aproveitei melhor o potencial da crianças, como não fiz exatamente o que havia me proposto e, que, no caso, era ampliar o repertório cultural do meu grupo? E o pior, como eu achava que estava alcançando meu propósito quando não estava?
A gente estuda, faz curso aqui, curso lá, lê, conversa com gente que nos acrescenta um monte de idéias, pensa a respeito de como elaborar e trabalhar bons projetos didáticos e sequencias de atividades, mas, na hora H, ainda temos dificuldade em transformar conhecimentos e ideais de educação em práticas enriquecedoras de sala de aula.
É claro que acredito que já avancei muito e sinto prazer em desenvolver atividades e projetos com características que chegam bem próximas àquilo que acredito em educação, mas ainda percebo muitos limitadores de minha própria construção como professora.
Medo, insegurança, falta de preparo? Bom, um misto de tudo. Medo porque sempre amedronta aquilo que é diferente do que vivemos e a Escola que eu estudei é bem diferente da Escola que eu trabalho. E Escola com letra maiúscula mesmo, no sentido de instituição.
A Escola tem sofrido muitas transformações e, mesmo correndo o risco de ser uma Poliana, acredito que muitas foram positivas. Digo pensando no histórico da Educação Brasileira, quando o acesso a educação formal estava totalmente restrita a pessoas muito abastadas. Bom, e hoje em dia? A escola não favorece quem é mais abastado? Sim, mas ela avançou no sentido de estender a todos. O passo seguinte é que sejam alcançados níveis de excelência no ensino sem diferenças gritantes entre níveis sociais. Mas, sendo otimista, penso que estamos caminhando (a que passos eu não vou julgar agora) e vivemos o ensino obrigatório a todos garantido pela legislação.
Finalmente, a educação começa a ser melhor discutida, alguns pressupostos questionados, outros paradigmas quebrados e o ensino, em breve, deixará de ser apenas legalmente obrigatório, mas qualitativamente eficiente. Espero!
Mas, mesmo assim, eu, professora, embora estude, embora aprecie minha profissão, embora queira evoluir, me vejo tendo posturas que gostaria de modificar, me prendo em modelos, penso em estratégias de ensino e procedimentos, mas atuo de maneira tradicional e arcaica.
O que precisamos fazer para modificar ações?
Mesmo sendo crítica comigo mesmo, o caminho talvez seja esse mesmo e, assim como a Educação de forma geral precise seguir certas trilhas para ser ao mesmo tempo universal e de qualidade, eu precise primeiro estar muito sedimentada em minhas convicções pedagógicas, precise testar e experimentar muitas situações em que perceba, no meio do processo (ou até no final) o que e como poderia fazer diferente e melhor.
Se a criança passa pela elaboração de diversas hipóteses de escrita para chegar na convencional, talvez eu deva admitir a mim mesma que preciso passar por etapas de hipóteses de "como ensinar bem" para chegar ao ideal que acredito.
Ninguém nasce pronto, não é mesmo!
O que tiro dessas reflexões é que cada vez mais acredito na Avaliação.
Eu não poderia ter momentos de crítica e reflexão se não tivesse instrumentos de avaliação que me permitissem perceber se a minha intenção didática foi alcançada, se as atividades foram pertinentes e enriquecedoras ou se eu apenas reproduzi um modelo e as crianças não avançaram tudo o que podiam. Avaliar é preciso! Refletir é preciso!Se rever é preciso! E a formação é essencial!

Uma sala de Educação Infantil


Uma sala de educação infantil pode ser muitas coisas em um mesmo dia, pode ser tudo o que a sua imaginação, criatividade, boa vontade, conhecimento e desejo permitir!
Pode começar o dia sendo uma grande sala de bate papo. Sim, digo grande, porque as EMEIS de São Paulo tem, em média,35 crianças e, portanto, papo é o que não falta. Não falta papo, não falta assunto, não faltam momentos de intervenção do professor, não faltam concordâncias, discordâncias, conflitos, soluções, trocas, respeito a fala do outro... Falta, às vezes, condição para que todos fiquem bem acomodados, confortáveis! É isso falta, mas o prazer da conversa é tão grande que a gente esquece um pouco do chão duro e de não dar pra se esparrar todo.
Na sala de educação infantil também há metamorfoses. Momentos em que nos inspiramos em Ralu Seixas e nos transformamos em outras pessoas ao lermos histórias e assumirmos as caras e bocas dos personagens de nossos livros. Nessa hora, não falta mesmo é o prazer da leitura compartilhada, dos olhos brilhando, da ansiedade em saber o que vai acontecer.
E, de repente, não mais do que de repente, a sala de aula, que já foi sala de bate-papo e sala de leitura, vira um atelie. E lá se vão pranchas de artistas para serem apreciadas, tintas, pincéis, godês, panos, colas, tesouras, papéis diversos... Quem passa na porta e vê pode até pensar que está uma bagunça, mas não está. O que se tem são muitos corpinhos se movendo na busca pelo material que vai fazer os muitos pensamentos das cabecinhas se tornarem um tela, uma colagem, um desenho, uma escultura.
E não para por aí, porque o atelie se transforma em uma exposição, porque afinal todos podem e devem compartilhar o que fizeram, comentar, discutir, apreciar a obra do outro, pensar no que e em como foram trabalhadas as idéias e os materiais.
E novas transformações vão ocorrendo a cada dia, a cada hora. E o espaço se transforma junto. Acompanha as necessidades das crianças e as intenções didáticas da professora.
Necessidades que precisam ser atendidas. Como a criança que vive num mundo letrado e está ansiosa para usar os códigos precisa de momentos em que a sala vira um laboratório de escrita, onde ela vai experimentar, testar e avançar em suas hipóteses com o apoio e as interferências da professora, com material didático enriquecedor.
Por isso, eu, como professora de Educação Infantil a tantos anos, só posso dizer que seja em Creche, seja em EMEI, seja em uma Escola Particular, as salas de educação tem uma varinha mágica que a transforma para nós e para as nossas crianças naquilo que quisermos.